Karatê Kid - Lendas




Lembranças de uma Sessão da Tarde


Por Inácio Saldanha 


Karatê Kid - Lendas (Karatê Kid Legends) é um filme previsível, e talvez por isso confortável. No filme, acompanhamos a história de Li Fong (Ben Wang), um jovem lutador de Kung Fu, indo morar em Nova York com a mãe (Ming-Na Wen) tentando recomeçar a vida após o trauma da morte de seu irmãos mais velho após um torneio de Kung Fu. A partir desse trauma, o filme entrelaça a fórmula estabelecida tanto em Karate Kid (1984) como em seu reboot de 2010 com pontos extras de tempero, o que garante um frescor à franquia.  


O primeiro ato do filme é muito bom. Para cada situação que já vimos em outros filmes existe um acréscimo: um jovem que vai morar em um lugar desconhecido (só que agora é o trauma que move a família),  a menina que se torna seu interesse amoroso, o ex-valentão que treina em uma academia com didática questionável, o encontro com um mestre e, por fim, um torneio que conta com um golpe especial. Entre esse checklist são colocadas variações sobre o tema: a cidade é Nova York, a garota conta com um pai que se torna aluno do jovem Li, além do desenvolvimento não somente com um, mas dois mestres.


O filme traz uma cena do segundo filme da trilogia original (Karatê Kid 2 - A hora da verdade continua) para conectar os filmes originais e o remake de 2010, ao trazer a tona que o criador do Karatê Miyagi passou parte de sua vida na China, junto com a família Han, aprendendo Kung Fu. Daí surge a frase “Dois galhos, uma árvore” dita no filme. O senhor Han (interpretado por Jackie Chan) procura, então, Daniel Larusso (Ralph Macchio), herdeiro dos ensinamentos do Sr. Miyagi, para complementar os ensinamentos de Li Fong, tornando-o a conexão entre os dois galhos.


Preciso comentar que, mesmo tendo gostado bastante de Cobra Kai, devo admitir que poucas lutas me empolgaram. Ralph Macchio não me passava verdade nas lutas. E colocá-lo ao lado de um artista marcial como Jackie Chan só deixaria tudo isso mais evidente. Mas devo dizer que as soluções encontradas me deixaram bastante tranquilo. Fossem elas truques de câmera ou o foco na parte do ensino técnico-filosófico permitiram que eu ficasse dentro do filme. 


O terceiro ato, entretanto, é sofrível. Ainda no início do filme, quando Li e Mia estão passeando pela cidade, em um tos telões e de forma muito rápida, passa uma propaganda da franquia de jogos Tekken. Pois bem: era muito comum nas décadas de 80 e 90 sair um filme e depois um jogo do filme. Aqui o jogo sai dentro do filme. O torneio é algo en passant, como se alguém, nas opções, tivesse ajustado o handcap para dar mais dano e com o timer ajustado para 30 segundos. Tudo passa muito rápido. É impossível não associar com outro filme oitentista de torneio, O Grande Dragão Branco, onde mesmo tendo uma história (por mais clichê que seja), temos um torneio em que conseguimos ter o mínimo de afinidade pelos outros participantes. Aqui simplesmente não dá tempo, e agora eu nem cosigo lembrar do rosto dos outos participantes. A estética no terceiro ato, por mais que eu tenha achado interessante o formato usado no início (traduzindo o mandarim para o inglês), aqui no torneio ficou pesado. Em alguns momentos parecia que eu estava assistindo o inicio do filme Esquadrão Suicida de 2016: cortes rápidos, muita poluição visual, muita coisa colorida, Ainda gosto da ideia do número de dano pulando na tela com o golpe, e até mesmo com os lutadores em visão lateral com um grande Fight! saltando no meio da tela, e entendo a conexão (ou a busca dela com os mais jovens), mas eu acho que poderia ser menos. Fugiu do filme que estava sendo contado.


Enfim, fiquei bem feliz durante o filme, na real. Momentos onde o protagonista mostra que realmente foi treinado por Han, emulando movimentos e situações típicas dos filmes de Jackie Chan (me lembrando até momentos de Jackie Chan: Stuntmaster do Ps1) me fizeram dar um sorriso sincero. Também fiquei com vontade de amassar a cara do antagonista, Connor (Aramis Knight) desde o primeiro momento, mas ele ficou tão parecido com o Johnnie Lawence que consegui entender que ele também era uma vítima.


Enfim, não vá pensando que é uma continuação direta de Cobra Kai, por mais que existam conexões poucas. Está mais para uma continuação de Karatê Kid, tanto de 84 como de 2010. Lendas consegue juntar muito bem esses dois galhos em uma mesma árvore. 



Inácio Saldanha

Relações Públicas e Colunista da Oniiverse

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