Anora
Sean Baker
Anora, o filme de Sean Baker, que estreia hoje (23/01/2024), nos cinemas, traz a história de uma jovem prostituta que se envolve com um herdeiro de uma oligarquia russa e se casam sem pensar em uma viagem a Las Vegas. O filme ganhou a Palma de Ouro, em Cannes.
Sean Baker traz sua versão de “Uma Linda Mulher”, com toques de um realismo romântico palpável em sua crueldade e vicissitudes. O filme já inicia dizendo a que veio, com cenas de profissionais do sexo em seu ambiente de trabalho de maneira bem explícita. Entre elas, temos Anora, vivida pela atriz Mikey Madison. Inicialmente, já notamos que ela leva bem a sério sua profissão e é ótima no que faz. Vemos Anora, ou Ani, como gosta de ser chamada, indo de cliente em cliente, fazendo intervalos com sua amiga de trabalho, fazendo pausas para lanches e até se desentendendo com uma outra “funcionária” mais invejosa. No meio dessa dinâmica, que parece bem estruturada, surge um determinado cliente, Vanya, ou Ivan, um jovem de 21 anos, de uma família russa bilionária. Vanya não fala muito bem inglês e se encanta por Ani, que consegue entender e até falar russo por ter uma avó que somente falava este idioma. Assim, começam dias de curtição com Vanya, até chegar a famosa proposta de ter a profissional exclusivamente por sete dias. Já ouvimos essa antes, mas a reação de Anora é só pensar na possível dor de cabeça que seria deixar na mão seu trabalho. Como disse, ela é profissional.
Eles partem para uma viagem repentina para Las Vegas e, no meio da curtição, Vanya tem a ideia de que seria ótimo eles se casarem, pois seus pais iriam enlouquecer e não fariam ele voltar para Rússia, já que teria um green card com o casamento. A reação de Anora é: “wtf?”. Mas embarca na ideia e os dois se casam em uma capela em Las Vegas. É a partir daí que as intenções e os sentimentos de Anora parecem entrar em um aparente conflito. Ela parece estar irradiando felicidade com o casamento, não pelo pretenso amor que sente por Vanya, não parece que esse sentimento existe, mas por ser gratificada com a perspectiva de uma vida sem preocupações com dinheiro.
Como esposa, poderá desfrutar sem limites da fortuna que Vanya esbanjava nos puteiros da cidade, mas que agora seria parte dela. Anora parece estar pronta para ser uma espécie de esposa troféu e não ver problema nenhum em aturar a infantilidade de seu esposo, mas não estava pronta para descobrir que a riqueza de Vanya estava sobre um embargo familiar, pois tudo provém de sua família. E quando começa a sair na imprensa que o filho de um oligarca russo se casou com uma prostituta, Anora começa a entender gradualmente o tamanho da imaturidade de Vanya e que tudo não foi mais do que Vanya tinha dito desde o início: uma encenação para enfurecer seus pais.
O que dói é ver a protagonista entendendo e voltando lentamente ao seu papel de prostituta. De certa maneira, ela não perdia o controle sobre seu corpo ou suas ambições quando trabalhava na boite e dançava para os homens. Quando ela resolve ceder ao capricho de um adolescente, ela talvez tenha dado espaço a uma pequena centelha de que ela se tornara uma “Cinderela”. É aí que ela percebe que a falta de amor é bem recíproca e que seu “homem” não vai lutar pelo casamento dos dois. Então, seguem-se as humilhações e a jornada de anulação do casamento até, enfim, ela se dá por vencida e deixar o luxo e a riqueza que mal chegou a provar.
Anora parece uma aventura amorosa alucinante e cheio de luz, como se retratasse aquele sentimento que o amor traz quando te lança em uma nuvem cintilante e depois a gravidade vai desacelerando e te trazendo em rota de colisão ao chão.
Mikey Madison entra na corrida ao Oscar como uma “zebra”, sem muitas chances de levar a estatueta, mas tem sido reconhecido pelo sucesso de sua interpretação sem pudor, sensual e com uma entrega hipnotizante nas telas.

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