O dublê

 Literalmente Ryan Gosling



   A nova obra de David Leitch traz a história de Colt Seavers, um dublê apaixonado por uma diretora de fotografia quando ele, em determinado filme, sofre um grave acidente. Por conta da vergonha e do sentimento de fracasso, ele decide desaparecer, ou pelo menos é o que ele tenta, já que ao ser encontrado e voltar ao meio, o protagonista agora tem que decifrar o desaparecimento do ator principal. Ele conta com suas habilidades e passa por várias situações até resolver o mistério. O ex-dublê, que mais tarde se tornou coordenador e hoje é diretor, Leitch estreou na co-direção com "John Wick" (2014), infelizmente não creditado na época. David também levou para as telonas filmes como "Atômica" (2017), "Deadpool 2" (2018), "Velozes e Furiosos: Hobbs and Shaw" (2019), entre outros. Será que o diretor conseguiu mais uma vez deixar sua marca nos filmes de ação ou acabou caindo em mais uma ação com comédia B?
       Sem enrolar muito, Leitch conseguiu sim. O dublê, inspirado na série "Duro na Queda" (1981-1986), é uma verdadeira homenagem a um trabalho muitas vezes esquecido e deixado de lado por boa parte do público. A comédia romântica de ação vem com Ryan como Colt Seavers, Emily Blunt na pele da Diretora Jody e Aaron Taylor-Johnson como o vilão Tom Ryder. A dupla de protagonistas não poderia ter uma química melhor. O carisma do protagonista e seu "timing" cômico fazem com que ele nunca passe em branco em cena, mesmo em cenas onde ele não é o foco, ou nem mesmo deveria estar em quadro; o galã sempre encontra uma forma de arrancar risadas do público. Para complementar a dupla, a parceira romântica do dublê, Emily Blunt, mostra como é uma atriz versátil. Além de ser consagrada em filmes mais dramáticos e que exigem mais esforço cênico, a intérprete demonstra também carisma e uma sobriedade cômica muito natural. Tal naturalidade de ambos deixa a relação entre os dois além de crível, funcionando muito bem quando a obra puxa mais para o lado da comédia romântica.

        Agora, quando o filme puxa para o lado da ação, não tem quem segure. Após anos trabalhando tanto como dublê quanto coordenador, Leitch sabe como poucos criar uma boa cena de porrada, perseguição, acrobacias, etc. Como dito antes, o filme é uma bela homenagem ao trabalho dos dublês, então os efeitos práticos reinam na obra. Ou seja, aqui os homenageados são usados o tempo todo em cenas cada vez mais entusiasmantes. Com experiência no meio, David traz ótimas coreografias de luta e muitas cenas que outros diretores optariam por usar bonecos digitais, trazendo ainda que em uma obra fantasiosa, realismo e credibilidade para seu filme.
       A credibilidade muitas vezes é prejudicada pelo desenrolar do roteiro, não por situações que beiram a loucura, pois a obra consegue fazer com que o espectador exercite muito bem sua suspensão de descrença, que é quando se aceita situações fictícias porque as regras da obra permitem, mas sim por escolhas de roteiro que muitas vezes parecem forçar a barra para os personagens. Certas conveniências e atitudes dos personagens podem tirar o espectador da obra. Após a resolução do primeiro mistério, o filme também dá uma forte pisada no freio para uma parte da homenagem que bem poderia ter ficado de fora do corte final, pois é um momento que já entendemos a ideia e que não necessariamente agrega à obra. Passados esses pontos negativos, a história engrena novamente e volta às cenas de ação que impressionam e à comédia que cai como uma luva na obra.

       A comédia é muito bem encaixada e não deixa a obra boba ou repetitiva. Piadas que se repetem não parecem forçadas e voltam a aparecer no máximo 3 a 4 vezes. Leitch optou por piadas visuais e gestuais dos atores, não recorrendo a frasezinhas no final de uma conversa que com o tempo podem cansar quem assiste e fazer com que a graça se perca muito facilmente. O diretor coloca esse humor mais gestual exatamente dentro das ocorrências da obra, como quando um personagem tem que fazer um salto, desiste e logo depois é obrigado a fazê-lo por conta da perseguição, ou quando um cachorro, em meio às lutas dos humanos, entra na briga ao receber comandos em francês, o que cai muito bem com a ideia estapafúrdia da obra: um dublê que vem para salvar o dia. Certamente, nem tudo funciona muito bem; David acaba caindo na ideia de explicar muitas situações e piadas que são facilmente captadas pelo espectador, como se a obra pegasse sua mão e o guiasse.
        "O Dublê" é uma ótima obra e entra para a galeria de acertos do diretor, que por ser alguém com muito lugar de fala no quesito de ação, mostra paixão e vontade nas histórias que conta. Em sua obra mais pessoal, ele traz à tela o que fez boa parte da vida e demonstra boa parte desse amor a quem assiste.






Gabriel "The Salles" (@the_fotosalles)

Colunista de Cinema da Oniiverse!


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Duna: Parte Dois - Quero ver dormir agora

O menino e a garça – Belíssimo, lindo, mas não entendi nada!