CRÍTICA - URSINHO POOH: SANGUE E MEL

  Versão terror do clássico infantil não funciona nem na base da zoeira

  Por Raphael Martins


Se você é fã de cultura pop, em algum momento pela internet afora já deve ter esbarrado com o termo ‘’domínio público’’. Basicamente, a partir de 70 anos depois de sua primeira divulgação, uma obra ou personagem passa a pertencer ao mundo e qualquer um pode fazer o que quiser com ela sem precisar pagar uma quantia quase sempre generosa para alguém, o que significa que, se você quisesse fazer um filme na sua garagem estrelado por Sherlock Holmes, você poderia. 


Pois bem: um desses personagens que hoje estão em domínio público é o Ursinho Pooh, e um filme feito na garagem talvez tivesse sido melhor do que o que é apresentado em Ursinho Pooh: Sangue e Mel, versão de horror do clássico escrito por Alan Alexander Milne em 1925. Eu queria estar brincando, mas não estou, o filme é tão desastroso que eu mesmo tive problemas para encontrar motivação para escrever esta crítica até o fim. E olha que eu nunca arredo o pé de um bom desafio.


A hora do pesadelo


O filme abre com uma tentativa de sequência animada, com rabiscos que podem muito bem serem os verdadeiros storyboards do longa se movendo, e ela começa contando o que a gente já sabe: Christopher Robin (Nikolai Leon) e os animais do Bosque dos Cem Acres viviam felizes e contentes em dias de alegria sem fim… até que o garoto decide deixar seus amigos para trás e seguir em busca de seus sonhos. A novidade não é muito bem aceita pelas criaturas, que passam os anos seguintes à míngua, sendo forçados até a devorarem o pobre burrinho para sobreviverem. Então, eles fazem um pacto onde juram aniquilar tudo o que for humano com requintes de crueldade.


Corta para os dias atuais. Um grupo de adolescentes, todas belas mulheres, decide passar alguns dias em uma casa próxima ao dito bosque, onde mortes sem explicação estão acontecendo há meses, ou até anos, naquela lógica burra e esgotada de filme de terror. Lá, elas são perseguidas e mortas uma por uma por Pooh e Leitão, que aparecem como figuras monstruosas, mas nem tanto, graças à maquiagem que se resume a máscaras de borracha vestidas pelos atores.


O filme é um pesadelo completo, mas no mal sentido: o espectador pode sofrer muito mais do que as donzelas na tela durante as 1 hora de 20 de projeção. Nada, absolutamente nada, funciona. Os assassinatos, que deveriam ser o ponto alto de qualquer filme de terror, são pouco inspirados, tem zero criatividade e por vezes acontecem off-screen, isso quando a cena não está tão escura que nem apertando muito os olhos dá pra enxergar o que está acontecendo.


Os personagens não poderiam ser mais bidimensionais nem se tentassem muito, e toda sua personalidade é resumida e um reles traço de comportamento. Tem a amiga arrogante, o casal apaixonado, a donzela ingênua, a protagonista traumatizada e por aí vai. Como se isso já não fosse o suficiente para não ligarmos a mínima para quando elas são mortas, ainda temos cenas de perseguição e assassinato tão risíveis que qualquer desavisado que chegasse no meio da sessão poderia pensar que se trata de uma esquete do Hermes e Renato, só que sem graça. Um fã de verdade de filmes de terror pode sair da experiência extremamente ofendido.


Quando o ‘’tão ruim que é bom’’ não funciona


Existem filmes que são tão ruins que ‘’dão a volta’’ e ficam bons, e exemplos desse fenômeno não faltam por aí. Infelizmente, não é o caso de Ursinho Pooh: Sangue e Mel, que tem um roteiro tão mal escrito que eu sequer consigo me recordar de outra produção com tamanha concentração de momentos sem nenhum sentido e que quebra as próprias regras de forma tão idiota.


A abertura do filme, por exemplo, sugere que Christopher Robin foi morto, mas ele aparece vivo pouco tempo depois, refém dos mutantes que um dia chamou de amigos. Os monstros, aliás, tinham jurado renegar tudo o que fosse humano e voltar para suas raízes animalescas, mas aparecem vestindo roupas, usando utensílios e até dirigindo um carro (!!) para esmagarem a cabeça de uma pobre garota.


Falando no elemento gore, fundamental em produções desse tipo, nem mesmo isso é bem representado na tela. Quase todo o sangue é feito por computador, então nem mesmo os litros de sangue falso, a marca de todo bom slasher, estão lá. Um filme de horror sem efeitos práticos? Péssimo sinal…


É claro que uma experiência cinematográfica é algo muito pessoal e um filme ser ‘’bom’’ ou ‘’ruim’’ vai de cada um, mas eu não imagino ninguém se divertindo de verdade assistindo este aqui, nem mesmo acompanhado de um grupo de amigos pouco dispostos a levarem alguma coisa a sério. 


O aviso foi dado. Se você vai fazer como o personagem inteligente de um filme de terror, que dá meia volta e vai pra onde é mais seguro, ou a protagonista que caminha direto para o perigo apesar de tudo indicar que ela vai ter uma morte horrível, aí é inteiramente com você.


Ursinho Pooh: Sangue e Mel estreia no Brasil no dia 10 de agosto.


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