CRÍTICA: BESOURO AZUL

  Nova DC do cinema começa com o pé direito equilibrando ação e coração

Por Raphael Martins





Muito se tem falado sobre a ‘’nova era’’ do universo DC nos cinemas capitaneada por James Gunn (Guardiões da Galáxia, Pacificador), que carrega a promessa de deixar as problemáticas produções anteriores da casa para trás em favor de uma nova linha do tempo realmente coesa e feita com muito mais carinho e cuidado. O primeiro filme desta timeline é Besouro Azul, que chega aos cinemas hoje (17) e que é, para a alegria e alívio deste crítico, um excelente começo.


O longa dirigido por Angel Manuel Soto consegue tanto apresentar o super-herói quanto celebrar a cultura latina de uma forma bastante competente, se afastando de estereótipos fáceis para contar uma história que equilibra humor, ação e coração em uma trama que não traz nada de novo, mas que é tão bem conduzida que isso não se torna um problema.


A HORA E A VEZ DE JAIME REYES


Criado em 1939 por Charles Nicholas Wojtkowski, o Besouro Azul já teve mais de uma encarnação, cada uma com sua história de origem, poderes e características. O filme foca na versão mais atual do personagem, o garoto Jaime Reyes (Xolo Maridueña, de Cobra Kai), que acaba de voltar para a cidade de Palmeira City depois de se formar para rever sua família, arrumar um emprego e viver uma vida normal. Mas este é um filme de origem de super-herói, então, obviamente, o destino tinha outros planos para ele.


Sua vida muda quando ele cruza o caminho de Jenny Kord (Bruna Marquezine, que dispensa qualquer apresentação para nós brasileiros), que descontente com os rumos militaristas que a empresa de seu pai Ted Kord - o segundo Besouro Azul - estava tomando, decide roubar da sede da companhia um misterioso escaravelho de origem alienígena, que servia de base para um projeto bélico que poderia colocar o mundo de joelhos e dar poder total à sua tia Victoria (Susan Sarandon), a vilã da história. 


A pedido da garota, Jaime leva o artefato para casa, e ao ser escolhido por ele, passa por uma metamorfose e consegue acessar todos os poderes, habilidades e arsenal do tal escaravelho, que na verdade é um traje cósmico superpoderoso capaz de criar tudo o que a imaginação de seu usuário permitir. Agora cabe a ele proteger a si mesmo e sua família da ganância sem limites de Victoria, que não se importa nem um pouco de derramar o sangue de quem quer que seja para conseguir seu trunfo de volta.


Assim como nas páginas dos quadrinhos, nas quais estreou em 2005 durante a saga Crise Infinita, Jaime tira toda sua força e motivação de sua família, que o apoia incondicionalmente e é tão unida que deixaria até mesmo Dom Toretto com inveja. E esse aspecto do personagem faz com que não seja difícil se afeiçoar e torcer por ele, o que é um grande acerto do filme em uma época em que é cada vez mais difícil o público se conectar a um protagonista na tela grande. Você não quer só que ele controle o traje e ganhe as lutas, mas também que ela seja feliz e deixe sua família orgulhosa.


O fato de Jaime ser um protagonista que funciona faz com que as cenas de ação, brilhantemente coreografadas e incríveis de se ver na tela, fiquem ainda melhores. A cada nova habilidade, arma ou poder mostrado, o que se segue é uma sequência ainda melhor que a anterior, subindo o nível cada vez mais e deixando a experiência cada vez mais divertida. Destaque também para os efeitos especiais, que ao contrário do resultado lamentável apresentado em The Flash e em várias produções recentes do Marvel Studios, estão bem sólidos para um filme de super-heróis.


POVOANDO UM MUNDO MAIOR


Outra grande força de Besouro Azul está em seu elenco de apoio, em especial a família de Jaime, que conquista o público com pouco esforço. Milagro (Belissa Escobedo), a irmã do herói, e Rudy (George Lopes) seu tio, são os maiores destaques, mas até mesmo a pacata avó do grupo tem seu momento de brilhar.


A Jenny de Bruna Marquezine também é uma força a ser reconhecida. A atriz claramente agarrou com todas as forças a oportunidade de estrelar um grande filme da DC e dá tudo de si no papel, entregando uma personagem que não tem medo de se meter no meio de um tiroteio ou de derrubar um helicóptero com a própria tia dentro em nome de suas convicções. Embora tenha bastante humor, nada no filme é mostrado de forma leviana ou soterrado pelas cenas de ação: a dor de perder pessoas queridas pelo caminho não passa depois que o dia é salvo e o vilão é derrotado, o que dá uma camada a mais de realismo e de empatia para os personagens.


Claro, este é um filme da DC, de uma nova linha do tempo da editora nos cinemas, então ele tem a obrigação de começar a construir esse novo universo. E ele faz isso bem, sem sacrificar a própria narrativa em nome do fanservice barato. Não há nenhuma participação de outros personagens, mas heróis como Batman, Superman e Flash são mencionados de forma direta, o que mostra que eles já estão inseridos naquele mundo e são reconhecidos pelas pessoas que habitam nele. É um pequeno passo na construção de algo muito maior, mas é um passo de qualquer forma.


PARA A AMÉRICA LATINA COM AMOR


Sendo Jaime Reyes um herói latino, que vive em uma cidade com fortíssimas influências latinas, seria chover no molhado que a cultura dessa região fosse abordada. Isso por si só inspira preocupação em qualquer um de nós porque seria extremamente fácil errar neste quesito e partir pros comportamentos e elementos estereotipados, mas podem respirar aliviados: o filme conduz a parte da representatividade muito bem.


Além da parte musical, há inúmeras referências a ícones da cultura pop latina, sobretudo à Mexicana, país de origem de Jaime e sua família. Maria do Bairro, a inesquecível novela estrelada por Thalia nos anos 90, é mencionada várias vezes, sobrando um espacinho até para Marimar, a primeira parte da ‘’trilogia das Marias’’ estrelada pela cantora. Até nosso querido Chapolin Colorado tem tempo de tela e acaba sendo importante em uma das missões do herói! Pena que isso é o mais próximo que teremos de um filme do vermelhinho nos cinemas…


Mas deixando a cultura pop de lado, um outro aspecto muito importante do povo latino-americano se faz presente no filme: sua comunidade fortemente unida, que na hora da dificuldade, se junta para reverter qualquer situação, por mais difícil que seja. Isso se mostra em um dos momentos finais do filme, que não falha em emocionar o público nos momentos mais dramáticos e fortes dos 127 minutos de projeção.


Besouro Azul é um ótimo pontapé inicial para a nova DC do cinema, uma aventura que cumpre com louvor o que se propõe a fazer e que pode entrar tranquilamente no seleto corredor dos melhores exemplares do gênero ‘’filme de herói’’. Espero poder ver Jaime, Jenny e toda a família Reyes de volta logo logo, seja nas telonas, seja nas telinhas. O futuro é promissor.


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