O Crime é meu (2023)





 "O Crime é meu" é o primeiro filme francês que a Oniiverse assiste na cabine de imprensa da Espaço Z e foi um deleite! Desde as cenas com diálogos rápidos e hilários aos figurinos belíssimos da década de 30 em Paris, é encantador e intrigante.

O roteiro não cansa de surpreender, fazendo você se perguntar onde essa história maluca vai parar, enquanto te enche de risadas com as tiradas ácidas que revelam certas facetas da realidade social das mulheres dos tempos antes da Segunda Guerra, na região de Île-de-France. As protagonistas parecem transformar fatos que levariam a finais trágicos em verdadeiras oportunidades de subir na vida, contando não só com a imbecilidade dos homens ao seu redor, mas usando a própria arrogância masculina como trampolim social.

E são duas trambiqueiras que te fazem torcer em cada golpe. O Crime em si não precisa de solução, afinal, ninguém se importa com mais um burguês rico encontrado morto… A mulher que o acompanhava, sendo a vítima ou a assassina, e que será alvo das críticas morais nos jornais e nas conversas dos bares é a verdadeira dona dos holofotes. Nossa, e como a personagem de Madeleine sabe usar os holofotes!

De certa forma, o filme traz uma reflexão sobre um fenômeno das redes, a holofotação, termo cunhado pela Senhorita Bira, em seu canal de YouTube, "O algoritmo da imagem". O que importa para a pessoa que sobe ao palco não é o conteúdo, mas é a exposição e o lucro que pode ser galvanizado na eletricidade do burburinho, do escândalo, da polêmica, daquilo que faz todos os cidadãos se chocarem e repercutirem a notícia velozmente, e com ela vai a imagem da pessoa. Não é por acidente ou por ingenuidade que Madeleine confessa crimes ou inventa fatos que a incriminam. Ela quer o Crime. O Crime é dela. Porque com o Crime vem o holofote. E vêm a fama, a influência, o mistério de quem é essa mulher e do que ela é capaz. E nesse pacote, vem o dinheiro, um tanto quanto fugaz, mas continua sendo dinheiro…

François Ozon extrai a beleza desse roteiro, inserindo as homenagens ao cinema mudo e preto e branco que retornam na sua cinematografia. Usa na personagem Pauline a mesma sutileza que insinua uma homossexualidade sem deixar claro para o espectador. Particularmente, faz lembrar de seu filme de 2017, "Frantz", em que as cenas de flashback constroem uma amizade próxima demais entre os personagens masculinos, mas não se pode confiar em tudo que François coloca na tela. Tem sempre um detalhe que te faz suspeitar. O diretor, que também participa do roteiro, não quer entregar a história por completo nem precisa. Deixa um sabor de "quero mais", ansioso pelo próximo crime!



Sousen

Colunista e diretor criativo da Oniiverse!

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