Crítica para o filme M3GAN
Por Inácio Saldanha - Oniiverse Podcast
É impossível você olhar para uma expressão artística e não relacionar primeiramente com a sua própria realidade. Hoje assisti M3GAN e associei logo a um temor que existia no meu tempo de criança, onde facas estavam dentro de bonecos; uma associação quase que direta também à franquia Brinquedo Assassino ou até mesmo às histórias corporativas de fábricas de brinquedos correndo para desenvolver o novo brinquedo que iria lotar as prateleiras durante o dia das crianças e o natal. M3GAN me trouxe essas lembranças e deu um upgrade nelas.
Eu realmente achava que o filme ia ser um terror com bastante violência, (e o fato de James Wan ser o produtor trouxe ainda mais essa ideia) mas eu não senti, de fato, medo enquanto o assistia. As cenas que envolvem mortes não são bem leves. Para ser sincero, o que me aterrorizou foi a crítica que o texto do filme fazia o tempo inteiro, sobre o quanto estamos deixando nossas crianças a mercê de tecnologias para podermos ter “tempo para fazer outras coisas”. Uma das personagens até expõe essa preocupação quando questiona o papel da robô: se era para auxiliar ou para substituir os pais. O temor que eu tinha sobre facas dentro de bonecos foi logo substituído por um boneco com uma assistente virtual inclusa, (o que fica ainda mais assustador durante a cena final do longa).
A boneca tem uma aparência assustadoramente incômoda que beira o reconhecimento de uma humanidade mas sem deixar de mostrar sua artificialidade. Conforme ela vai “aprendendo” consequentemente ela se torna mais cínica ao ponto de sua voz, outrora humanamente robótica, passar a mudar a frequência por não se importar mais com o que os humanos acham dela. Cheguei a achar a sua voz parecida com a voz da GlaDos de Portal. Não sei se foi essa a intenção, mas não havia como não relacionar esse tom de voz com ela.
M3GAN é um filme que possui um humor bem ácido, com ótima maquiagem (o robô está sensacional) mas que não vai agradar a todos. Um filme cheio de boas ideias mas com uma execução mediana. No entanto, vale demais a discussão sobre tecnologia e infância.
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